Olá Anderson! Do Rio de Janeiro.

A pergunta é muito oportuna, vem abrir nosso entendimento a compreensão do texto Bíblico. Não podemos nos fixar simplesmente ao que esta escrito; devemos ir além do texto escrito e abrir-nos para a realidade que cerca o texto. O fato da ressurreição de Lazaro, que envolve o episódio do sepultamento e da abertura do túmulo quatro dias depois, nos remete a uma compreensão mais ampla dos sepultamentos na época de Jesus. Somos desafiados a compreendermos os costumes judaicos quanto ao sepultamento dos mortos. Para o Judaísmo sepultar os mortos, era uma obra de misericórdia que não poderia ficar alheia a todo o Judeu temeroso da Lei de Deus.

 

Custumes Funerários judaicos:

Os Judeus levavam seus mortos a sepultura sem o esquife, isto é sem um caixão como nos ocidentais fazemos. Simplesmente os mortos eram enrolados em um lençol. O Novo Testamento nos transmite este conhecimento. Existe um ritual de sepultamento, o corpo era lavado, ungido com perfumes e aromas, envolvidos em lençóis de linho e finalmente colocado em um nicho escavado na rocha ou grutas que eram abundantes na região. Na cidade de Jerusalém existem milhares destas grutas que serviram para sepultamento de mortos. Olhando o texto dos evangelhos sinóticos encontramos algumas diferenças na denominação das mortalhas que envolviam os mortos

- Os sinóticos Mateus Marcos e Lucas chamam de “lençol”: Lc 24,12

- O evangelho de João de “panos”: Jo 19,40; 20,5.6.7; ou “faixas" Jo 11,44

E a cabeça do defunto era coberta com um lenço.

 

Pela descrição do Novo Testamento sabemos como eram os túmulos. A entrada era fechada por uma pedra (lembro a preocupação das mulheres quando foram ao sepulcro de Jesus. Quem vai tirar a pedra na entrada?). Os corpos não eram embalsamados como conhecemos da história egípcia e nem realizado o longo ritual da mumificação dos defuntos. Assim os cadáveres não eram desviscerados e eram conservados o mais natural possível. Assim no enterro judaico o processo de decomposição seguia o seu ritmo normal. (lembramos o caso de Lazaro, que já cheirava mal, pois fazia quatro dias (Jo 11,39). Os egípcios embalsamavam seus defuntos para poderem em um futuro fazerem homenagem póstuma, no judaísmo à forma de pensar era diferente. Os Judeus pensavam na possibilidade da ressurreição independente da conservação do defunto. Esta maneira de pensar judaica fazia que não houvesse um desespero acentuado pela morte de um ante querido. O apostolo Paulo expressa muito bem seu pensamento quando diz:

“Ressuscita um corpo espiritual”. (1 Cor 15,44)

 Sobre o velório na época de Jesus, a Bíblia nos narra como foi realizado o sepultamento de Jesus. Com ele tudo foi rápido, pois estavam para iniciar o sábado e tudo deveria estar pronto. Por Jesus ser da Galileia a família não tinha uma sepultura em Jerusalém, e José de Arimatéia empresta seu tumulo. Não foi observado os costumes tradicionais de lavar o corpo, ungilo com perfumes para controlar o cheiro da decomposição (lembramos que a região de Jerusalém a temperatura se mantem alta durante quase todo o ano). Tudo foi muito rápido, José de Arimateia e Nicodemos enrolaram Jesus em um pano de linho, e o colocaram em um nicho do tumulo feito da rocha, para simplesmente servir de lugar temporário. Tudo isto aconteceu no final da sexta feira, inicio do sábado. Fecharam a pequena entrada com uma pedra, para afastar animais ou mesmo a viandantes desconhecidos que passassem por ali. Os ritos funerais Judaicos continuam após o sepultamento com a visita aos túmulos. Os túmulos de pessoas de posse tinham além da pedra redonda na entrada,  uma sala, onde as pessoas podiam permanecer, para rezar, cantar salmos, levar ofertas, acender lamparinas de óleo, depositar perfumes. (caso citado no evangelho em que as mulheres foram ao tumulo para levar perfumes).

 Anderson! Pelos dados apresentados percebe-se que o assunto “funerais no tempo de Jesus” é muito importante, e existe muito material já escrito. Sabemos que os cemitérios da antiguidade guardam tesouros que contribuíram para a descrição da história destes povos. Fatos relevantes são as descobertas no Egito dos tumulos dos Faraós, na Palestina do tempo de Jesus não é diferente, a Arqueologia tem ainda muito a descobrir e certificar-se sobre a história e os costumes destes povos.