O versículo que você menciona diz: Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos céus. O vocáculo grego é PTOCHÓI, normalmente traduzido como pobres. O problema é que Mateus acrescenta "em espírito". De fato, Lucas, que repete as mesmas palavras de Jesus (6,20: Felizes vós, os pobres, porque vosso é o Reino de Deus) não há este acréscimo.

Por causa desta particolaridade de Mateus, os teólogos tendem a sublinhar o aspecto moral deste termo nesse evangelho e algumas versões bíblicas usam "humildes" invés de "pobres". Todavia não há razão para não traduzir como "pobres".

 

Tal índole moral deriva do Antigo Testamento, precisamente de Sofonias 2,3, onde é usado o termo hebraico 'anawim (que em hebraico sim significa tanto 'pobre' quanto 'humilde'). Para o profeta, os pobres ('anawim) eram aqueles que se submitiam à vontade divina. Com o tempo eles se tornam os destinatários previlegiados da mensagem redentora. Isaías, por exemplo, diz que é a eles que o Messias será enviado (Isaías 61,1).

 

É no sentido dos pobres que aceitam a vontade divina que deve ser lido o termo grego no Evangelho de Mateus. Convém, todavia, como disse, traduzir sempre com o vocábulo "pobre", pois é inegável que para Cristo os excluídos são destinatários previlegiados do seu anúncio. Talvez Mateus queira sublinhar que não basta a pobreza para receber a salvação, mas não deixa de falar da sua importância. Além do mais, para "humilde", em grego, existe a palavra TAPEINOI usada, por exemplo, em Lucas 1,48.52; 14,11; 18,14, no sentido que o humilde será exaltado.

O adjetivo PTOCHOS (singular de PTOCHÓI) aparece 34 vezes no Novo Testamento.