Bíblia

A palavra Bíblia é uma palavra grega que está no plural e significa Livros. Embora seja um volume só, a Bíblia contém muitos livros, é uma coleção de livros, uma biblioteca.

Em hebraico se chama Tanach e correponde somente ao Antigo Testamento.  A palavra Tanach é um acróstico, ou seja, uma palavra formada pelas primeiras letras das três partes que a constituem:

T= Tora

N- Neviim (Profetas)

Ch= Chetuvim (Escritos)

Essa é a divisão hebraica da Escritura. Esta parte os cristãos herdaram dos judeus e acrescentaram o Novo Testamento. Quase toda o Tanach foi escrita em hebraico, tendo sido traduzido para o grego só mais tarde, por volta do ano 250 antes do Cristianismo. Essa tradução foi chamada de Septuaginta.


A importância da Bíblia

A leitura da Bíblia quer nos ajudar em nossos dias a perceber a presença viva de Deus, do seu sonho de vida e esperança, de paz e solidariedade. Por isso, a Palavra de Deus é, acima de tudo, como a luz de um farol que indica o caminho por onde andar (Cf. Sl 119,105). Nela encontramos o sentido para nossas vidas.


A Bíblia é como uma colcha de retalhos.

A Bíblia contém uma unidade que é o Plano de Deus. Mas na composição dessa unidade entram os diferentes livros.

Diferentes:

-         na extensão

-         na origem

-         no jeito de escrever ou Gênero literário,

-         nos autores,

-         no tempo em que foram escritos

-         no conteúdo, etc

Mas o que mais impressiona quando a gente lê a Bíblia é a descoberta de que essa “colcha de retalhos” está em nossa casa. Isso porque a Bíblia é também como um grande espelho de parede em que o nosso rosto está refletido. É ainda como um álbum de família que guarda a memória do passado. Lendo-a, muitas vezes reconhecemos que nossa vida está dentro dela ou está falando para nós.


A Bíblia nasceu aos poucos

A Bíblia é um livro que nasceu aos poucos. Nasceu da vida de um povo que tentou ser fiel a Deus presente no dia a dia.

Antes de texto escrito vêm experiências vividas pelas mais diferentes pessoas e em lugares variados. Todas essas experiências foram sendo contadas, recontadas durante muito tempo. Só então a memória virou um texto.

Sobre os mesmos fatos foram surgindo diferentes tradições de acordo com o meio onde eram narradas, recontadas e escritas. Na cidade, nos palácios e no templo a re-elaboração era de um jeito. No campo era de outro.

Aos poucos, as tradições foram agrupadas dentro de narrativas  ou conjuntos maiores, adquirindo um novo colorido, fornecendo respostas novas a novas necessidades, até o texto chegar às sua redação final como o temos hoje.

A Bíblia não quer transmitir os fatos, mas a intenção, a mensagem a partir dos fatos.

A Bíblia nos revela o sentido profundo que está dentro dos fatos, por trás das palavras.

Revela a presença misteriosa de Deus na vida, na história, nos fatos, nas pessoas. Mais do que uma história de fatos, a Bíblia contém teologias da história, isto é, reflexões de fé sobre a história.

A Bíblia não quer transmitir uma história “factual”, mas “intencional”. O mais importante não é o fato em si, mas a intenção que o autor quer transmitir. Conseqüência disso é que a pergunta certa a ser feita ao texto bíblico não pode: “o fato foi ou não foi assim?”, mas sim: “qual a intenção de quem escreveu o texto?”, ou: “o que o texto quer dizer?”, ou ainda: “qual sua mensagem?”

Para exemplificar, lembremo-nos da história de Caim e Abel (Gn 4). Aqueles que lêem esse texto como fato histórico não conseguem explicar de onde veio a mulher de Caim, quando naquele momento, se lemos o texto ao pé da letra, apenas existiam Adão, Eva e Caim. Se, no entanto, vamos ao texto em busca da intenção do autor, do sentido do texto, certamente encontraremos uma resposta.

A Bíblia  não é fotografia nem filmagem, mas raio-X, isto é, revela a vida por dentro.

Sua interpretação dos fatos vai além das aparências, da cara, da fachada. Por isso é melhor compara-la com um raio-X, revela o sentido profundo que está dentro dos fatos, por trás das palavras. Revela a presença misteriosa de Deus na vida, na história, nas pessoas.

O que lhe interessa é a pulsação da presença de Deus nas veias dos acontecimentos. A comunidade israelita faz como que “pinturas” e, às vezes, quadros diferentes de uma mesma realidade. Assim acontece com as duas “pinturas” da criação, logo no início do livro do Gênesis.


A Bíblia nos revela a presença amorosa de Deus na vida

Continuando a usar imagens para comparar as Escrituras, poderíamos dizer ainda que a Bíblia é como um binóculo. Quando ficamos olhando para ele, nós só o enxergamos  ele mesmo, o binóculo. Porém, quando olhamos através dele, vemos o horizonte de outro jeito, com outra perspectiva. Assim também é a Sagrada Escritura. Olhando à distância, ela parece um livro qualquer. Mas se olhamos através dela, aquilo que está por trás das palavras, atrás da lente desse “binóculo”, então percebemos sua intenção, que é revelar a presença amorosa de Deus na vida, nos acontecimentos.


Deus se manifesta no passado e continua se manifestando no presente

Uma coisa que nos deixa com um pé atrás em relação à Bíblia é a facilidade e freqüência com que se diz que Deus apareceu e falou com algum personagem como Noé, Abraão e Sara, Agar e Jacó, Rebeca e Moisés, Elias e tantos outros. Será que apareceu cara a cara e falou com sua voz? Ora, sabemos que Deus não tem cara e sua voz não vibra no ar. Mas também sabemos que, para comunicar nossas experiências mais profundas, temos que usar imagens. Nós, que temos fé, sabemos que Deus está invisivelmente presente em nossa vida, conhecemos os traços do seu rosto escutamos sua voz, sobretudo em momentos decisivos.

Numa ocasião, uma freira perguntou ao Professor de Bíblia: “Por que Deus aparecia e falava tanto na época bíblica e deixou de aparecer e de falar hoje?” E ele respondeu: “Por que você resolveu ser freira?” E ela respondeu: “Porque Deus me chamou.” Ela tinha percebido a “voz” de Deus nos acontecimentos de sua vida.

O povo tem razão quando diz: “Deus te ouça”, “Deus te guarde!”, “Vai com Deus!” e outras expressões que manifestam a presença atuante de Deu em todos os nossos passos. Só podemos falar de Deus através de imagens e figuras.


Linguagem bíblica

Nosso jeito de falar é muito diferente da linguagem usada por povos de dois ou três mil milênios atrás em uma realidade e cultura muito distinta da nossa. Se o povo de Israel da época de Salomão lesse algum romance de Jorge Amado, certamente teria dificuldade para entender os costumes, a cultura e a linguagem do povo no Nordeste brasileiro. Já para um brasileiro, certamente não haverá tantas dificuldades.

A mesma coisa acontece com a linguagem bíblica. Ela era entendida pelo povo daquela época. Para nós, porém, ela é mais difícil. Além disso, convém lembrar que não só a linguagem, mas também o conteúdo, muitas vezes nos parece estranho. Essa dificuldade é real, porque os conteúdos bíblicos refletem outra realidade, outra visão de mundo, outra cultura, outro contexto, outro lugar.


A linguagem bíblica se vale de muitos símbolos, imagens e comparações

A Bíblia usa muitos símbolos, imagens, comparações. Por exemplo, os números, na Bíblia, na maioria das vezes são simbólicos. Nem sempre podem ser lidos como se tivessem um valor quantitativo, mas qualitativo. O número 7, por exemplo, significa plenitude, é o número da divindade. Tal como nós hoje, o povo da época bíblica também usava símbolos para falar, por exemplo, de Deus. Compara-o com o oleiro, com a rocha, com a água viva, etc. O Reino de Deus em Mt 13 é comparado com uma semente, o trigo, o grão de mostarda, a rede, a pérola, o talento.


Há muitos tipos de linguagem nas Escrituras

Entre nós, há muitos tipos de linguagem. Por exemplo, no direito, quando o assunto é lei, a linguagem é clara e concisa. Já a poesia usa metáforas, símbolos. Uma crônica é diferente de uma carta. Uma carta comercial não é igual a uma carta familiar. Uma fábula é diferente de um relato histórico. O narrador de um jogo de futebol não usa a mesma linguagem do contador de piadas.

Assim há também muitos tipos de linguagem nas Escrituras. Nelas encontramos histórias, estórias, poesias, romances, parábolas, alegorias ou comparações, provérbios, orações, cantos, profecias, apocalipses, narrativas de milagres, de vocações. Só isso já nos ensina que não podemos ler a Bíblia ao pé da letra, tal qual dizem as palavras que lemos. É preciso interpretar cada texto conforme a linguagem com que é expresso. A Bíblia tem até fábulas, como aquela das árvores que falam e resolvem eleger um rei (Jz 9,7-15).

Prosa e poesia: as duas formas básicas de linguagem na Bíblia.

Aprosa é uma narrativa, uma descrição em forma linear, tal como falamos normalmente. Ex.: Listas de nomes, listas de leis, crônicas, Diários de viagem, novelas, fábulas, parábolas, narrativas de vocação, narrativas de milagre, discursos, visões, testamentos, cartas, biografias, alegorias, contratos, lendas etiológicas.

A poesia é uma forma imaginativa de falar e escrever. É a arte de falar em versos e por imagens. Algumas formas: Provérbios, Salmos, cânticos de vitória, cânticos de amor, lamentações.


Como você pode ver nestes exemplos, é grande a riqueza das formas literárias que aparecem nos escritos bíblicos. Fala-se, assim, de diversas formas, estilos ou gêneros literários.

Bíblia, Palavra de Deus na palavra humana. Revestida da palavra humana. É um livro divino humano.

O Deus da Bíblia é Emanuel (Deus  conosco), isto é, faz história com seu povo.

Para ler a Bíblia, é muito importante nunca esquecer a forma humana da Palavra de Deus. Senão corremos o perigo de tratar a Bíblia como uma coisa mágica.

Temos que ter as “antenas ligadas” para sintonizar o que Deus nos quer dizer hoje através de sua Palavra que está na Bíblia. É que a Palavra da Bíblia é sempre atual e exige de nós uma atitude constante de escuta e conversão.

Poderíamos também dizer que Deus está nas palavras da Bíblia porque Ele está presente na história de seu povo. E a história desse povo com seu Deus está relatada nas Escrituras. A Palavra de Deus vem junto com a palavra humana. A Bíblia não é somente a história de um povo, mas é a história de um povo que busca viver a fidelidade para com seu Deus, o Deus da vida.

As Escrituras são fruto de um grande mutirão entre Deus e seu povo, entre a ação de seu Espírito e a vontade do povo de ser fiel a Ele. A ação do Espírito de Deus é como a chuva. Ela cai do alto e, junto com a terra cá embaixo, ajuda a semente a germinar, de modo que se transforme em planta, floresça e frutifique (Is 55,10-11). A planta é, pois, fruto do céu, isto é, da chuva, e é fruto da terra. Como a planta, a Bíblia também é fruto da ação de Deus e do esforço das pessoas. Ela é a Palavra do Deus do povo na palavra do povo de Deus.

Traduções da Bíblia.

A tradução é o único meio para fazer com que uma coisa escrita em uma língua possa ser lida e entendida por quem não fala aquela língua. Para que as pessoas que não falavam as línguas originais em que a Bíblia foi escrita pudessem entendê-la, também as Escrituras tiveram que ser traduzidas.