Esse é um texto clássico do Evangelho de João, conhecido como a unção de Betânia, uma cidadezinha a poucos quilômetros de Jerusalém, conhecida por ser o local de residência da família formada pelos irmãos Marta, Maria e Lázaro.

O evangelista conta que Jesus vai a um jantar, onde Marta servia e Lázaro era um dos convidados. Maria invés, tomou um recipiente de perfume, ungiu os pés de Jesus e os enxugou com os cabelos. Nota-se a preciosidade do perfume e dizem - Judas! - que o seu uso é um desperdício, que essa riqueza poderia ajudar aos pobres.

Essa passagem provavelmente coincide com aquelas contadas por Mateus 26,6-13 e Marcos 14,3-9. Todavia, não com uma outra unção, que é contada por Lucas 7,36-50: Jesus estava na casa de um fariseu e se aproximou uma pecadora, com um recipiente com perfumes. Ela banhava os pés de Jesus com as lágrimas, os enxugava com os cabelos e os ungia com o perfume. Os que estavam com Jesus o julgavam por que deixava uma pecadora estar próxima dele.

Em João, Maria é louvada em detrimento de Judas, que sublinhava o desperdício:

“Deixa-a; ela conservará esse perfume para o dia da minha sepultura”.

 

Entendendo a unção de Maria

A unção de João está intimamente ligada à morte de Cristo, pois no texto é lembrada a morte de Lázaro e que se entra na semana da Páscoa, quando Jesus vai morrer. Jesus, na prática, vê no gesto de Maria  uma homenagem antecipada prestada ao seu cadáver.

Na Antiguidade o óleo era usado como unguento refrescante. Na Bíblia, a unção com óleo tem o sentido de um rito sagrado. Uma pessoa ou até mesmo objeto era ungido com a finalidade o tornar sagrado. É um gesto tão importante que a Bíblia descreve como o óleo deve ser preparado, em Êxodo 30,22-33. Tem, portanto uma intenção particular: deveria ser usado apenas com a finalidade de consagrar. Após a unção, o Espírito do Senhor virá sobre quem é ungido, transformando-o para realizar algo extraordinário, como aconteceu por exemplo com Saul e Davi (1Samuel 10,1 e 16,13).

No novo testamento não temos a unção dos reis, mas Tiago 5,14 recomenda que os doentes sejam ungidos para que obtenham a cura (1Tiago 5,14).

Quando falamos de texto bíblico, devemos recordar que os elementos da tradição e a realidade a qual o texto se refere estão intimamente conectados. Por isso é provável que tudo quanto dito acima tenha a ver com o episódio de Betânia.

O elemento mais importante é sem dúvida a eminente morte de Jesus. Em João 19,39 vemos como, após a morte, Jesus também é ungido com o óleo preparado por Nicodemos. Nas unções, tanto de Maria quanto da pecadora de Lucas, há uma da unção que Jesus recebe depois que morreu. As mulheres o fazem para dizer que Jesus morreu por toda a humanidade e que por toda a humanidade irá ressuscitar.