Não é fácil de responder sua pergunta. Primeira precisa considerar que há muitas correntes dentro do judaísmo e as ideias não são claras como podem ser para as confissões cristãs. No tempo de Jesus, a esperança messiânica experimentada pela primeira comunidade era a expectativa judaica. Depois, com a separação não amigável entre judeus e cristãos, obviamente as visões se separaram cada vez mais. Isso levou aos judeus ignorar completamente a convicção cristã de que Jesus é o Messias esperado.

Para a maioria dos judeus, o tempo messiânico é basicamente uma esperança. Há vários movimentos messiânicos, principalmente dentro do judaísmo ortodoxo, que sublinham a esperança na chegada de um chefe que satisfaça as prerrogativas da instauração do Reino de Deus. O Judaísmo mais moderado tende a ver no messianismo a esperança da realização de um princípio, mas do que na vinda de uma pessoa. O messianismo, sob esse ponto de vista, seria uma época e não uma pessoa. Mas, repito, essa ideia é um pouco marginal na ortodoxia judaica.

A “Era Messiânica” coincide com a chegada do Reino de Deus, o “Malkhùth Shaddài”.

Falando do perfil do Messias, a expectativa do mundo judaico é muito variada. É interessante a afirmação de Daniel Boyarin, um dos maiores estudiosos do Talmud, a propósito do Messias na tradição judaica:

“Alguns argumentaram que para ser cumpridor da lei era preciso acreditar em uma única figura divina. Outros acreditavam que Deus tinha um delegado divino, um emissário, talvez até um filho, que se elevou acima dos anjos e agiu como intermediário entre Deus e o mundo em termos de criação, revelação e redenção. Muitos judeus, por outro lado, acreditavam que a redenção seria realizada por um ser humano, um herdeiro da Casa de Davi, que num determinado momento assumiria o cetro e a espada e derrotaria os inimigos de Israel e o restauraria à sua antiga glória. Outros pensavam que as duas figuras, a humana e a divina, eram a mesma e que, portanto, o Messias de Davi seria também o Redentor. Em resumo, um assunto muito complicado”.

 

O valor da espera messiânica dos judeus para nós cristãos

Em um documento de 2001, a Comissão Bíblica do Vaticano, através do famoso cardeal Ratzinger, depois Papa Bento XVI, chamou a atenção para o valor que pode ter também para nós cristãos a expectativa messiânica judaica: “Para nós cristãos, pode se tornar um forte incentivo para manter viva a dimensão escatológica de nossa fé. Como eles, também nós vivemos na expectativa. A diferença está no fato de que para nós Aquele que está por vir terá as características do Jesus que já veio e já está presente e ativo entre nós” (Povo Judeu e as Suas Sagradas Escrituras na Bíblia Cristã).

Essa posição está intimamente ligada à concepção que deveríamos ter do “cumprimento” do Antigo Testamento. Nós, cristãos, reconhecemos que em Cristo se cumpriram as Escrituras e as expectativas de Israel, mas não podemos entender esse cumprimento simplesmente como uma simples realização do que foi escrito, pois isso seria uma visão muito reduzida do valor das Escrituras. O mistério de Cristo, através da sua morte e ressurreição é um cumprimento imprevisível. Jesus não se limita a desempenhar um papel já pré-estabelecido - o do Messias - mas confere às noções de messias e salvação uma plenitude impossível de imaginar antes; ele as enche de uma nova realidade.

O nosso julgamento severo sobre os judeus e sua leitura do Antigo Testamento se baseia em uma visão distorcida do papel da profecia, que não é uma fotografia antecipada daquilo que se realiza em Cristo. O primeiro objetivo do profeta é permitir que seus contemporâneos compreendam os acontecimentos de seu tempo através dos olhos de Deus. Portanto, é melhor não insistir muito, como fazem alguns apologistas, no valor da prova atribuída ao cumprimento das profecias. Muitos cristãos pensam, erroneamente, que quanto mais evidente a referência a Cristo nos textos do Antigo Testamento, mais injustificável e obstinada é considerada a descrença dos judeus.