A correta oração não interfere absolutamente no livro arbítrio, pois é escuta e nos ensina como “usar” esse dom. A sua oração pode ajudar o outro a se converter não por que você é capaz de fazer esse milagre, mas por que a graça de Deus age nas pessoas também através de seu exemplo, que pode inspirar a vida de quem convive com você. 

Deus nos ensinou que devemos pedir sempre. No diálogo com Deus, que é sinal da amizade e da fé  nEle, não tem como não inserir nossas preocupações, nossas "questões". Foi ele mesmo que nos disse para pedir que nos será dado, para procurar que encontraremos (Lc 11,5-13). Mas será que pedimos como se deve?

 

Oração é diálogo

A sua pergunta é um oportunidade para falar de maneira aberta sobre esse tema, que parece ganhar espaço na atualidade. Confesso que é comum fazer e sentir perguntas sobre a oração: por que rezar? Como rezar? Quais são os obstáculos à oração?

Se por um lado as comunidades estão cada vez mais descobrindo a importância e valor da oração, parece também que esse fenômeno se coloca dentro de uma religiosidade que não corresponde à verdadeira oração cristã. Já a sua pergunta deixa entrever a índole desse movimento de oração, que é muito disseminado também na tradição secular cristã: eu rezo ou oro para pedir a intervenção divina. Mas, na oração cristã, Deus precede qualquer nosso esforço: antes de procurar a Deus, foi ele que nos buscou; antes de responder a Ele, fomos chamados; antes da nossa atenção, Ele nos amou de maneira gratuita.

 

O exemplo de Salomão

1Reis 3 descreve a sabedoria de Salomão. Nesse contexto, aparece o terceiro rei de Israel em oração. O texto conta que o rei “amou o Senhor” e, em Babaon, Deus lhe aparece em sonho e lhe diz:

Pede o que te devo dar

E Salomão responde:

Dá a teu servo um coração cheio de julgamento para governar o teu povo e para discernir entre o bem e o mal.

Salomão não pede a Deus bens ou riqueza, mas discernimento para julgamento. Na verdade, a frase em hebraico é um pouco diferente. De fato, aquilo que Salomão pede é um lev shomea‘, isto é, um coração capaz de escutar.

Nós precisamos essencialmente disso: escutar a Deus e conhecer a sua vontade de Deus e conformar nossas vidas segundo os seus parâmetros, acolhendo o amor de Deus e dar uma resposta que se manifesta através do nosso amor a Ele a às pessoas com quem vivemos.

 

Os frutos da oração

Hoje em dia, é muito comum uma espiritualidade que visa o bem-estar, a retribuição. Há quem pensa que se não dá o dízimo ou não diz as orações diárias não terá o necessário para viver, não alcançará riqueza. Obviamente a lógica divina não é essa. Basta ver que há pessoas que são exemplo de religiosidade, mas sofrem igualmente muitos dramas pessoais ou familiares. A fé não nos faz imunes das desgraças, mas com certeza nos ajuda a superá-las. A oração aumenta nossa fé, nos aproxima de Deus e nos faz entender, como dito acima, a sua vontade.

É bastante normal nos perguntar, se alguém tem o costume de rezar, que fruto essa oração dará.

O fruto da oração não é a abundância, o milagre, a distância física do sofrimento, a vida sem problemas. O fruto da oração, como já ensinavam os monges do início do cristianismo, é a paz do coração. Essa paz, é verdade, pode ser medida, pode ser percebida. Talvez uma das medidas para conhecer a eficácia da oração seja a caridade, o amor que alguém demonstra por Deus e pelos outros. Portanto, o fruto da oração verdadeira é o amor.

Esse amor, no fundo, é o próprio Deus, a proximidade com ele. E quando Deus mora em nós, quando a nossa fé é sólida, encontramos forças extraordinárias para enfrentar as ameaças da vida, nos tornamos mais fortes nas provas do inimigo. É nesse sentido que uma pessoa que tem a força da oração pode dizer: quem nos separará do amor de Cristo? (Romanos 8,35).