Paulo, quando escreve aos Romanos, falando de Israel, da eleição que Deus fez dos hebreus, diz que “os dons e o chamado de Deus são irrevocáveis” (Romanos 11,29). Esse texto de Paulo serve para sublinhar que tudo o que recebemos através do Antigo (Primeiro) Testamento continua valendo. De fato os escritos do Novo Testamento reconhecem as Escrituras do povo têm um valor permanente de revelação divina. Consideram a base sobre a qual os livros do Novo Testamento estão apoiados. Esta tese é importante para afirmar definitivamente que nenhum cristão pode considerar o Antigo Testamento como ‘terminado’, ‘superado’, ‘imperfeito’ e nem a revelação nele contida como contraposta ao amor ensinado por Jesus no Novo Testamento. Também não se pode considerar as escrituras do povo judeu e o próprio povo judeu como representantes de uma visão divina violenta e equivocada. Afirmar esse juízo significaria renegar uma parte fundamental da sua própria identidade cristã.

Digo isso porque normalmente identificamos os “mandamentos” como qualquer coisa do Antigo Testamento.

Portando, podemos sublinhar: a Lei, o “ensinamento” de Deus que encontramos no Antigo Testamento não foi abolido (“Não vim para abolir a Lei e os profetas mas para dar-lhes pleno cumprimento” (Mateus 5,17).

 

Discernimento necessário

Diante do Primeiro Testamento, dos primeiros livros da Bíblia, nos deparamos com dois comportamentos. Como já aconteceu na história da Igreja no passado, também hoje há pessoas que tendem a minimizar a importância desses livros, crendo-os inferiores, superados pelo ensinamento de Cristo. O outro extremo é aquele de ler literalmente o que lá está escrito, seguindo na letra quanto ali escrito. Há todavia um processo necessário diante do Antigo Testamento.

A discernimento importante a ser feito é entre ‘aquilo que serve para a salvação do homem’ (a mensagem, a Palavra de Deus) e o modo através do qual esta mensagem é comunicada aos homens, ou seja, a linguagem: o uso de expressões, das maneiras de dizer, as imagens e os símbolos comuns da época em que tais textos foram escritos, os gêneros literários. Todos esses aspectos são intimamente ligados ao ambiente e à época em que os livros nasceram.

O Antigo Testamento é revelação de Deus e serve ainda hoje para nós entendermos a plena revelação presente em Cristo. Praticamente, sem os primeiros livros da Bíblia não podemos entender perfeitamente a Cristo. Eles funcionam como em uma dinâmica pedagógica, sendo Deus o pedagogo, que nos pega pela mão e nos conduz pela reta via. Tudo é importante, mas faz parte de uma etapa. Não podemos jogar fora nada, pois pode sempre ser útil.