A história de Elias, profeta especial para a história de Israel, principalmente pelo fato de ter sido arrebatado pelo carro de fogo, cuja a vinda é esperada para anunciar o Messias, é contada pelo Primeiro livro dos Reis, a partir do capítulo 17. A passagem que você menciona se encontra em 1Reis 19,9-14.

Depois de Elias ter desmascarado a falsidade dos profetas de Baal e tê-los matado, Acab e Jezabel procuram matar o profeta do Senhor. Elias então escaba em direção do Horeb, que segunda a tradição é o local onde Deus revelou, através de Moisés, a Lei ao povo de Israel, os mandamentos. Tendo chegado ao local, Elias se lamenta com IHWH, dizendo que mesmo se ele faz de tudo para transmitir a mensagem divina, apesar de todo o seu esforço, o resultado que obtém é a perseguição, é a ameaça de morte. Então, conta o autor sagrado, "eis que IHWH passou" (1Reis 19,11-12):

Aconteceu um furacão que de tão violento rachava as montanhas e quebrava as rochas diante de Javé. No entanto, Javé não estava no furacão. Depois do furacão, houve um terremoto. Javé porém não estava no terremoto. Depois do terremoto, apareceu fogo, e Javé não estava no fogo. Depois do fogo, ouviu-se uma brisa suave.

Essa passagem traz várias mensagens para a nossa vida. A primeira de todas tiramos diretamente da sua pergunta, isto é, que Deus se encontra na "brisa". Comumente (veja Êxodo 19), a Bíblia diz que Deus se revela nos furações, terrmotos e relâmpagados. Aqui, ao invés, Deus se revela no murmúrio de um vento tranquilo. Isso simboliza a intimidade de sua conversa com seus profetas. Mas não devemos pensar que a sua ação, de Deus, é simples; Deus é sempre radical. De fato, os versículos 15-17 mostram como a ordem divina seja radical e terríveis.

 

A crise de Elias

Outro ensinamento dessa história pode ser tirado fazendo uma análise mais complexa de toda a ação do profeta Elias. Ele conseguiu desmascarar a falsidade dos 400 profetas de Baal. Mesmo assim, constata que nada muda; tudo foi em vão. O povo não mudou em nada: "os israelitas abandonaram tua alinaça, derrubaram teus altares e mataram teus profetas a espada" (1Reis 19,10). Elias vê que todo o seu esforço é inútil; tudo continua como antes. Para que se esforçar, colocar em perigo a própria vida? Para que continuar, se o risco é novamente cair na repetição de uma ação inútil?

Através do caminho até o Monte Horeb, ou Sinai, Elias pode percorrer o caminho da volta às origens. Deus lhe mostra as suas grandes manifestações graças as quais havia libertado o povo da escravidão no Egito. Essa mesma potência divina havia ajudado Elias contra os sacerdotes de Baal. Mas agora o profeta percebe que vento, terremoto e fogo não significam a presença de Deus; Ele se revela a Elias em uma "voz de silêncio que passa" (em hebraico: qôl demamâ daqqâ = 'voz de um suave murmúrio").

Aquilo que Elias fez no Monte Carmelo contra os sacerdotes de Baal se mostra uma estrada que não produz frutos. Parece que o texto sagrado queira dizer que Deus não estava naquele fogo que consumou a oferta de Elias no desafio com os profetas e Jezabel (1Reis 18,20-40). O povo eleito precisa crescer; não é mais como quando saiu do Egito. Elias ainda quer encontrar IHWH nos eventos misteriosos, mas o Senhor não está na força da natureza, mas fala ao coração, com uma voz de silêncio. Essa voz "silenciosa" não é um castigo, mas um convite a entender a profundidade da ação divina.

O cerne do texto é a pergunta, repetida duas vezes, que Deus faz a Elias: "O que fazes aqui?" Recorda a manifestação de Deus a Moisés, em Êxodo 33,22, mas representa um passo na fé. Os símbolos da experiência de Elias lembram aqueles relacionados com o Espírito Santo, com a presença eficaz e silenciosa de Deus no coração dos fieis.

Deus nos pergunta: "o que buscas? Eu não venço no fogo, mas com o sopro suave do amor".

O vídeo abaixo conta, com a voz de Cid Moreira, a história de Elias no HOREB.