Tomos a passagem em um contexto um pouco maior, os versículos 11-15:

11 O esplendor dele foi atirado na sepultura, junto com a música de suas harpas. Debaixo de você há um colchão de podridão, seu cobertor é feito de vermes. 12 Como é que você caiu do céu, estrela da manhã, filho da aurora? Como é que você foi jogado por terra, agressor das nações? 13 Você pensava: «Vou subir até o céu, vou colocar meu trono acima das estrelas de Deus; vou sentar-me na montanha da Assembléia, no cume da montanha celeste. 14 Subirei até as alturas das nuvens e me tornarei igual ao Altíssimo». 15 E agora, aí está você precipitado na mansão dos mortos, nas profundezas do abismo.

Para entender o que diz o profeta, é necessário recordar fatos históricos. Isaías fala deles, basicamente da morte do rei da Babilônia.

 

O segundo império da Babilônia

Esse império nasceu a partir da derroda da Assíria contra os caldeus, em 612. Nínive foi destruída pelos caudeus que passaram a dominiar toda a região da meia lua fértil.

Figura de destaque é Nabucodonosor (605-563), que transformou a Babilônia em um grande centro cultural, promovendo construções arquitetônicas muito significativas, como o Zigurate e os Jardins Suspensos. O Zigurate era uma torre, em forma de pirâmide, com no topo um templo dedicado a ídolos. Essas transformações deram à cidade da Babilônia (portal de Deus) um esplendor único.

Foi Nabucodonosor que invadiu a Judeia e deportou seus habitantes para o Exílio em Babilônia, fato crucial da história do Povo de Deus.

Com o esplendor vieram também problemas de instabilidade. Em 539 a. C., Ciro II, rei da Pérsia, aproveitou-se dos problemas que tinha Babilônia e atacou-a, quando era rei Nabonido. Era o fim do império babilônico e os judeus puderam voltar para Jerusalém.

 

Isaías 14,3-22: sática contra o tirano destronado

Podemos ler os versículos que você cita como um comentário irônico ao rei que perde o poder, que morre. E poderíamos lê-lo como um canto dos judeus em Exílio que menosprezam o rei Nabucodonossor, que morre durante o exílio dos judeus.

Um dos elementos mais conhecidos deste texto que você cita é, sem dúvida a expressão "estrela d'alva", atribuído ao rei que é menosprezado:

 Como é que você caiu do céu, estrela da manhã, filho da aurora? 

A Vulgata, tradução em latim da Bíblia feita por Jerônimo, traduziu o termo "aurora da manhã" com a palavra "Lúcifer" e a interpretação dos Padres da Igreja atribuiu à queda da estrela d'alva, descrição do imperador da Babilônia, como a falência do príncipe dos demônios.