Exceto as poucas nuances que poderíamos descobrir nos textos dos Evangelhos, nada sabemos sobre esse tema que tem sido motivo de muito debate durante toda a história do cristianismo. Como é natural na lógica da comunicação, quando não existe informação certa, criam-se 'rumores' que prejudicam o entendimento objetivo dos fatos.

Daquilo que narram Mateus e Lucas, Jesus viveu em uma família tradicional da Galileia. Os eventos extraordinários evidentemente influenciaram a vida dessa família. Mas Cristo foi homem como nós, exceto no pecado, e viveu a sua infância como os seus contemporâneos, crescendo na sabedoria.

Durante a sua vida pública, é emblemático o encontro narrado com sua mãe, onde Jesus parece ser bastante duro com aquela que deveria ser sua família (Mateus 12, 46-50):

Jesus ainda estava falando às multidões. Sua mãe e seus irmãos ficaram do lado de fora, procurando falar com ele. Alguém disse a Jesus: «Olha! Tua mãe e teus irmãos estão aí fora, e querem falar contigo.» 48 Jesus perguntou àquele que tinha falado: «Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?» E, estendendo a mão para os discípulos, Jesus disse: «Aqui estão minha mãe e meus irmãos, pois todo aquele que faz a vontade do meu Pai que está no céu, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe.»

As palavras do evangelista parece dizer que não havia boa relação entre Jesus e sua família. É bem provável que esse episódio, escrito cerca de 40 anos depois da morte de Cristo, reflita uma situação histórica da comunidade primitiva, onde parece evidente o conflito entre duas mentalidades cristãs: os judaizantes, que queriam que a mensagem de Cristo ficasse no contexto de Israel, e os mais flexíveis, que, como Paulo, queriam difundir a todos a mensagem divina. Parece que a família de Jesus representasse o primeiro grupo, os judaizantes.

Outro indício que pode nos ajudar a entender essa passagem é o fato que o Evangelista observa que os parentes estão "fora", isto é, não entre aqueles que ouvem. Isto é o que acontece com aqueles que se sentem tão perto de Jesus que eles não sentem a necessidade de ouvi-lo. Jesus responde que sua mãe e seus parentes são aqueles que o escutam, isto é, aqueles que estão "dentro" da pregação do Evangelho.

Para um mundo como o judeu, que considera as relações de sangue como um fator determinante para a afiliação religiosa, esse rejeito dos membros da família é verdadeiramente desconcertante. Jesus, na verdade, indica sua nova família: composta por seus discípulos, por aqueles que o seguem, que confiam nele. O vínculo do sangue e do clã, o vínculo da nação ou do país, não são decisivos para o reino de Deus. A comunidade cristã se torna a família de Jesus e é muito mais ampla e forte que a natural, precisamente porque está fundada na Palavra de Deus.